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O Espaço e o Tempo
O Convento de Cristo e Castelo dos Templários é um dos maiores conjuntos monumentais da arquitectura peninsular e europeia, quer na sua extensão espacial quer na sua duração temporal. As suas edificações e o seu domínio rústico perfazem uma área próxima dos quarenta e cinco hectares. Ao castelo e ao convento corresponde área bruta de construção perto dos cinco hectares sendo a restante repartida pelas hortas e jardins do espaço edificado e pelos trinta e nove hectares da antiga cerca conventual, hoje designada como Mata dos Sete Montes.
Os sete séculos da sua construção percorrem os momentos mais significativos da história de Portugal, desde o dealbar do reino até ao advento da época contemporânea com o Liberalismo.
O castelo surge em 1160 com a fundação de Tomar pelos Templários. O seu espaço fortificado era então um exemplar de eficácia de arquitectura militar, com os recintos do burgo e dos cavaleiros separados por um terreiro, a sua muralha protegida por um alambor, pela capacidade de vigilância que ofereciam a torre de menagem e a Charola.
Depois da extinção dos Templários (1312), o castelo será sede da Ordem de Cristo e, sob a administração do Infante D. Henrique (1420-1460), vão surgir os aposentos conventuais em torno de dois claustros de expressão gótica, o claustro dito da Lavagem e o Cemitério.
A Charola, um dos raros e emblemáticos templos em rotunda da Europa medieval, teve o seu modelo na basílica paleocristã do Santo Sepulcro, de Jerusalém. A entrada na Charola era virada a nascente, até que as obras de D. Manuel estabeleceram a nova entrada a sul, na nave que ampliou o oratório para ocidente, através de um grandioso arco triunfal. O novo portal é obra de João de Castilho.
Desta época é também a profusa ornamentação escultórica da nave manuelina que se prolonga para o interior da Charola, através da pintura, com motivos simbólicos, arquitectónicos e figurativos. No registo superior das paredes do deambulatório pinturas murais descrevem cenas do Génesis e do Novo Testamento.
No registo intermédio grandes pinturas sobre madeira, atribuídas a Jorge Afonso, representam, cenas da vida de Cristo. As imagens em madeira policromada, representando os profetas e os santos padres da Igreja, são da autoria de Olivier de Gant e Fernão de Muñoz.
A nave manuelina, obra de Diogo de Arruda (1510-1513) concluída por João de Castilho (1513-1515), dotou a igreja conventual de espaços mais amplos para a função litúrgica e deu-lhe a configuração de igreja regular com planta longitudinal. Surge assim, a continuar a Charola, um espaço de assembleia, com a nova entrada a sul, uma sala para sacristia em piso de meia-cave e, por cima desta, um entrepiso sobranceiro à assembleia, destinado a coro da igreja. Este espaço ficou conhecido como Coro Alto e a sacristia como Sala do Capítulo. É nesta sala, e incorporada na fachada ocidental da nave, que está a famosa Janela do Capítulo, símbolo da expansão marítima portuguesa e da concepção imperial que o Rei Venturoso tinha para Portugal.
Quando D. João III se tornou rei de Portugal, em 1528, encetou uma profunda reforma na ordem de Cristo, de modo a confinar os freires religiosos à estrita observância de uma vida de clausura. Para consumar o seu objectivo, construiu um novo e grandioso convento para poente, extra muros do castelo, em torno da igreja ampliada por seu pai, o falecido rei D. Manuel I. O novo conjunto monástico, construído entre 1531 e 1552, vai ter as suas dependências organizadas em torno de cinco claustros de traça renascentista.
Com os Filipes de Espanha no trono de Portugal novas construções vão dar continuidade ao convento joanino. É concluído o Claustro Principal e no Claustro do Cemitério é edificada, em estilo maneirista, a Sacristia Nova. A fachada sul vai ser alterada pela arcaria do grandioso Aqueduto do Convento, que é a obra mais marcante do período filipino. Também a fachada norte será alterada com Portaria Nova e o Dormitório Novo, no Claustro da Hospedaria.
No último quartel do século XVII realizaram-se as derradeiras obras de grande vulto, com a grande Enfermaria e a Botica nova, que viriam a conferir ao flanco norte do Convento a sua actual monumentalidade. Estas construções fecharam o edificado conventual, respectivamente na fachada norte, desde a portaria filipina até ao topo nascente, para a seguir se articular com a Botica, cuja construção se estende para sudeste até à muralha do antigo paço real e Alcáçova.
Em 1834, com a revolução liberal, as ordens religiosas masculinas foram extintas e muitos dos seus bens vendidos. Em 1835 um influente político, António Bernardo da Costa Cabral, adquiriu em hasta pública, a Cerca conventual, o recinto da vila antiga, no castelo, e as edificações do ângulo sul-poente do convento. A adaptação da ala poente do claustro dos Corvos a um palacete neoclássico é o testemunho da arquitectura e do gosto do século XIX. Costa Cabral foi o conde de Tomar e os seus descendentes ainda aqui viveram por várias gerações.
A partir do início do século XX o monumento foi ainda ocupado pelo Exército e pelo Seminário das Missões Ultramarinas, até meados dos anos 80, altura em que o Estado reassumiu a plena posse do Conjunto Monumental designado por Convento de Cristo, com funções culturais e turísticas, que se mantêm.